Sai governo, entra governo e a tragédia continua: estudantes brasileiros do ensino médio (idade: 15 anos), inclusive de classe média alta, são incapazes de realizar exercícios matemáticos minimamente complexos, apresentam baixíssimos índices de leitura e sabem quase nada de ciências. São essas as três áreas avaliadas pelo PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, na sigla em inglês), que a cada três anos analisa o desempenho dos alunos em cerca de 80 países. O levantamento mais recente, realizado em 2022, acaba de ser divulgado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que tem sede na França.

Os números referentes aos estudantes brasileiros (vejam aqui) só não assustam mais porque outros países vêm caindo no ranking. Continuamos atrás, por exemplo, de Brunei, Mongólia, Jamaica, Azerbaijão, Cazaquistão e por aí vai. Contribuiu muito, desta vez, o fechamento das escolas decretado na pandemia. Mas o diretor do PISA, Andreas Schleicher, em entrevista ao Estadão, diz que isso é apenas parte do problema: a degradação do desempenho geral dos estudantes já vem sendo registrada há pelo menos uma década.

As razões, segundo ele, podem estar relacionadas a dois fenômenos típicos dos dias atuais: o uso exagerado do celular e a baixíssima participação dos pais na vida escolar de seus filhos. Difícil discordar. Sobre o celular, não há muito o que acrescentar às análises que têm sido feitas por educadores, psicólogos e demais especialistas. Virou uma praga!!!

Celular substitui os pais

Se crianças de 3, 4 anos já são permitidas a usar o “brinquedo” em parques, shoppings e praças, que dirá dentro de casa? E como impedir que, na adolescência, larguem o vício? Certas escolas proíbem a prática dentro das salas de aula, mas como fiscalizar todo mundo? Pior: numa época em que alunos desafiam e até desrespeitam professores, como cobrar destes que controlem os infratores quando já têm de se ocupar com o conteúdo das aulas?

O problema se agrava, claro, quando se sabe que grande parte das famílias não acha importante acompanhar a conduta escolar de seus filhos. Lembro de uma reunião com a coordenadora do colégio onde meu filho adolescente estudava, quando ela nos disse – a mim e a minha esposa – que éramos “exceção”: a maioria dos pais de alunos sequer comparecia às reuniões!

Muitos acham que basta pagar uma escola cara e transferir a ela as responsabilidades de educar os filhos. Quando os próprios pais não sabem o que os filhos estão aprendendo, nem se estão se empenhando no aprendizado, fica difícil cobrar algo deles – muito menos da escola.

De certa forma, parece que muitas famílias transferem ao celular a tarefa, o que é duplamente perigoso. Essa atitude talvez passe uma certa sensação de tranquilidade (enquanto está ao celular, a criança não está “aprontando”), mas pode facilmente descambar para a violência, como temos visto nos episódios de alunos invadindo escolas para atirar em colegas e professores. Sem falar nas questões ligadas a racismo, sexo, pedofilia, tráfico de crianças e aliciamento por grupos terroristas.

Um pai ou mãe que não dá atenção ao que seu filho faz na escola é, no mínimo, conivente com essas práticas. Não adianta culpar a escola. Nem o PISA!

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